A estudante Lairssa Freisleben, de 18 anos, que está entre os 250 estudantes a tirar nota máxima (1000) na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), citou a porquinha "Peppa Pig", personagem de um desenho animado britânico, que virou febre no Brasil em 2014, e é exibido no canal fechado Discovery Kids.
Lairssa mora em Farroupilha, cidade do Rio Grande do Sul. Em entrevista ao Jornal Folha de S. Paulo, ela contou que citou o desenho animado na redação, cujo tema foi "Publicidade infantil em questão no Brasil", devido à influência que os personagens tinham em seus primos, que tentavam imitar e querer os brinquedos da porquinha.
Ainda segundo a estudante, ela não teve dificuldades com o tema, uma vez que se preparou em cursinhos pré-vestibulares e realizou leituras de livros "mais bobinhos" até clássicos da literatura. Ela afirma ainda que conciliou sua rotina de estudos com aulas de balé.
Leia abaixo a redação de Lairssa Freisleben, publicada pela Folha de S.Paulo:
Publicidade Infantil: perigoso artifício
Uma criança imitando os sons emitidos por porcos já foi atitude considerada como falta de educação. No entanto, após a popularização do programa infantil "Peppa Pig", essa passou a ser uma cena comum no Brasil. O desenho animado sobre uma família de porcos falantes não apenas mudou o comportamento dos pequenos como também aumentou o lucro de uma série de marcas que se utilizaram do encantamento infantil para impulsionar a venda de produtos relacionados ao tema. Peppa é apenas mais um exemplo do poder que a publicidade exerce sobre as crianças.
Os nazistas já conheciam os efeitos de uma boa publicidade: são inúmeros os casos de pais delatados pelos próprios filhos –o que mostra a facilidade com que as crianças são influenciadas. Essa vulnerabilidade é maior até os sete anos de idade, quando a personalidade ainda não está formada. Muitas redes de lanchonetes, por exemplo, valem-se disso para persuadir seus jovens clientes: seus produtos vêm acompanhados por brindes e brinquedos. Assim, muitas vezes a criança acaba se alimentando de maneira inadequada na ânsia de ganhar um brinquedo.
A publicidade interfere no julgamento das crianças. No entanto, censurar todas as propagandas não é a solução. É preciso, sim, que haja uma regulamentação para evitar a apelação abusiva –tarefa destinada aos órgãos responsáveis. No caso da alimentação, a questão é especialmente grave, uma vez que pesquisas mostram que os hábitos alimentares mantidos até os dez anos de idade são cruciais para definir o estilo de vida que o indivíduo terá quando adulto. Uma boa solução, nesse caso, seria criar propagandas enaltecendo o consumo de frutas, verduras e legumes. Os próprios programas infantis poderiam contribuir nesse sentido, apresentando personagens com hábitos saudáveis. Assim, os pequenos iriam tentar imitar os bons comportamentos.
Contudo, nenhum controle publicitário ou bom exemplo sob a forma de um desenho animado é suficiente sem a participação ativa da família. É essencial ensinar as crianças a diferenciar bons produtos de meros golpes publicitários. Portanto, em se tratando de propaganda infantil, assim como em tantos outros casos, a educação vinda de casa é a melhor solução.
Fonte/Reprodução: Acorda Cidade.