Em um áudio divulgado nas redes sociais, durante uma reunião com membros do Ronda Ostensiva Municipal (ROMU), o secretário especial de segurança e defesa social de Campo Grande (MS), Anderson Gonzaga da Silva Assis, elogiou a liderança de Adolf Hitler. Ouça o áudio acima.
A gravação aconteceu no começo do ano, em uma reunião do secretário, que também é membro da GCM, com guardas que protestavam por melhorias salariais.
A Alemanha é a potência que é hoje graças ao Hitler. Estrategista, um cara inteligente, foi ditador, sim [...] conquistou o que conquistou graças às estratégias e inteligência dele […] Eu queria ser um terço daquele líder, disse Anderson.
Para a produção, a prefeitura de Campo Grande disse que o áudio tem recortes de fala e que "é importante esclarecer o ponto sobre o contexto em que o tema foi levantado naquela ocasião". Em nota, o secretário afirmou que o tema surgiu durante uma fala ao qual ele se defendia sobre uma "montagem maldosa". (Leia na íntegra ao final do texto)
A apologia do nazismo usando símbolos nazistas, distribuindo emblemas ou fazendo propaganda desse regime é crime previsto em lei no Brasil, com pena de reclusão (entenda mais abaixo).
Ainda na gravação, Anderson elogiou Hitler e disse que o admira.
Infelizmente quando mexe com pessoas, seres humanos, cada um pensa de um jeito [...] Eu tenho a minha consciência, fizeram até videozinho meu aí na internet chamando de Hitler. Eu até admiro Hitler, porque foi um cara inteligente, disse o secretário.
Conforme o Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), ainda não há investigação policial sobre o ocorrido.
Apologia do nazismo
Nas décadas de 1930 e 1940, Hitler pregava o nazismo como ideologia pautada na execução de povos e indivíduos que poderiam contaminar a presumida pureza da raça ariana. Essa prática virou política de Estado na Alemanha e nos países invadidos pelo ditador. Viraram alvos e eram assassinados negros, gays, pessoas com deficiência física ou mental, além de milhões de judeus em um período da Segunda Guerra conhecido como Holocausto.
Conforme a legislação brasileira, qualquer manifestação ou promoção de ideologias que incentivem o ódio, a violência ou a discriminação, especialmente quando relacionadas ao regime nazista, é crime.
Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a três anos e multa – ou reclusão de dois a cinco anos e multa se o crime foi cometido em publicações ou meios de comunicação social.
Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
Essa lei é respaldada pela própria Constituição, que classifica o racismo como crime inafiançável e imprescritível. Isso significa que o racismo pode ser julgado e sentenciado a qualquer momento, não importando quanto tempo já se passou desde a conduta.
Inicialmente, não havia menção ao nazismo na legislação, que era destinada principalmente ao combate do racismo sofrido pela população negra.
Apenas em 1994 e 1997 foram incluídas as referências explícitas ao nazismo, por projetos de lei apresentados por Alberto Goldman e Paulo Paim.
Leia na íntegra a nota do secretário Anderson Gonzaga da Silva Assis:
É importante esclarecer que o tema surgiu durante uma fala na qual eu me defendia sobre uma montagem maldosa de um vídeo no qual eu era comparado a Hitler. Em nenhum momento minha intenção foi minimizar as atrocidades cometidas por Hitler e seu regime. No momento em que me defendia, o que tentava destacar, era uma análise do contexto estratégico de um período histórico específico. É fundamental ressaltar que o tema não foi abordado em nenhum momento com a intenção de fazer apologia a ideologias extremistas ou a figuras como Hitler. A fala foi retirada de contexto. Foi um momento isolado em que eu tentava justificar uma situação pessoal e, por um erro de comunicação, acabei sendo mal interpretado por alguns.Lamento profundamente qualquer desconforto que possa ter causado e reitero meu compromisso com os valores de respeito, ética e humanismo, que são fundamentais para o ambiente de trabalho que todos nós buscamos construir e manter. Sigo com a mesma dedicação no sentido de promover um diálogo construtivo, e agora mais vigilante e consciente de seu impacto. Agradeço a compreensão de todos e me coloco à disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais.AtenciosamenteAnderson Gonzaga da Silva AssisSecretário Especial de Segurança e Defesa Social
Fonte: G1 / Foto: Reprodução