Polícia já usa Whatsapp para receber denúncias da população em Salvador

Polícia já usa Whatsapp para receber denúncias da população em Salvador

“Manda para a 15 pelo zap!”.  A indicação é bem assim: com a intimidade com que se conversa com um colega, um vizinho ou até um amigo. Só que a “15”, na verdade, é um apelido carinhoso para 15ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Itapuã). Agora, é assim: deu problema? É só mandar um WhatsApp. A comunicação com a Polícia Militar está, literalmente, na palma da mão.

Polícia já usa Whatsapp para receber denúncias da população em Salvador
Cerca de 50 solicitações chegam diariamente pelo aplicativo disponibilizado pelos policiais militares de Itapuã (Foto: Arisson Marinho)

 

Há pouco mais de um ano, a companhia de Itapuã tem um WhatsApp próprio. Com a chegada do atual comandante, o major Marcelo Franco, em junho do ano passado, o uso do aplicativo para ajudar o trabalho e aproximar a comunidade ficou ainda mais forte. Só o comandante está em mais de 50 grupos – entre associações de moradores, condomínios e associações comerciais. O número da companhia, monitorado 24 horas por dia pelos dois operadores de rádio de plantão, deve estar em uns 80.

“A gente tem usado muito a ferramenta, principalmente para fotos. Estamos tendo que adaptar (o uso do WhatsApp), já que é uma coisa aberta. O tempo de resposta é importante. Às vezes, eu não consigo evitar o problema, mas consigo evitar que ele se repita”, conta o major Franco.

Resultados

O smartphone dele não para. A trégua só vem no intervalo de tempo entre a 1h e as 5h da manhã. É quando aproveita para tirar o sono dos justos. O major estima receber cerca de 50 solicitações diferentes por dia. Ele não sabe dizer, ao certo, quantas ocorrências já foram atendidas. Por outro lado,  lista prisões – inclusive flagrantes – realizadas com ajuda das mensagens que chegam pelo aplicativo.

Na última terça-feira, dois homens foram presos e três adolescentes apreendidos depois que um morador denunciou que os cinco estavam em um carro suspeito na região. Quando a polícia foi até o local, descobriu que o grupo estava realizando assaltos. Na semana passada, foi a vez de um suspeito, que estava em um ponto de ônibus para assaltar pedestres, ser preso.

Todos esses casos foram solucionados com a ajuda dos “olheiros informais”. Na avaliação do major, para fazer parte dos grupos do WhatsApp da companhia, condomínios, estabelecimentos e associações de moradores precisam passar por um treinamento.

No caso dos porteiros, vigilantes e zeladores, eles passam por um curso para conseguir identificar melhor as situações suspeitas. O curso é curto; tem duração de oito horas. Mas eles garantem que as aulas já ajudam a ter uma percepção totalmente diferente da coisa. “Semana passada mesmo, fizemos com (funcionários de) oito condomínios. A gente dá noções de Direito, de segurança…”, explica. Mais de cem pessoas já passaram pelo curso.

Treinamento

O treinamento ajuda a evitar, por exemplo, demandas destinadas a outros órgãos públicos. Numa determinada região de Itapuã, por exemplo, não é incomum encontrar cavalos andando nas ruas. Antes, os moradores ligavam para os policiais. “Eu mesmo tinha que ligar para a Transalvador para pelo menos vir tanger o animal. Hoje, eles já ligam direto”.

Com o curso, o olhar fica mais treinado para identificar problemas. Geralmente, as situações são externas – como os furtos e roubos a partir da visão do porteiro, por exemplo, para a rua. “Não estamos pedindo que as pessoas façam o papel da PM. Mas, se ele está ali e consegue ver a rua, se encontrar algo estranho, pode ligar”. Vez ou outra, há algum problema interno – entre os moradores de um condomínio, por exemplo. Os mais comuns são perturbação por som alto e, em menor frequência, alguma denúncia de violência contra a mulher.

Tempo de resposta

Além do WhatsApp dos oficiais, há, sempre, dois operadores de rádio de plantão, que monitoram o que chega pelo WhatsApp da companhia. Um fica totalmente ligado nisso, com olhos no celular e no WhatsApp Web (para computadores). O outro divide a atenção com o monitoramento das câmeras de segurança da região.

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Base Comunitária do Bairro da Paz mantém seis grupos no WhatsApp para se comunicar com moradores (Foto: Carla Ornelas/ Secom)

 

Apesar de trabalharem pelas respostas rápidas, a recomendação é que as pessoas não deixem de ligar para o 190, após entrar em contato com a CIPM, já que o telefone oficial que é o canal que vai formalizar a ocorrência. “Se a pessoa quiser algo mais imediato do que o WhatsApp, às vezes pode ser melhor ligar direto para a companhia, porque a gente recebe muitas mensagens e precisa ler todas”.

Para o major, o projeto tem dado certo na área de Itapuã justamente pelas características do bairro. “É uma região que era local de veraneio, tem a questão da orla. As pessoas vivem um clima diferente de um prédio, por exemplo. O convívio dos moradores é mais próximo, dá mais a sensação de viver em comunidade”.

Moradores

Entre os moradores, o saldo é positivo. Presidente da Associação de Moradores de Stella Maris e Praia do Flamengo e membro do Conselho de Segurança de Itapuã, o bacharel em Direito Téo Fernandes diz que essa interação tem dado certo.

“O morador que sentia um pouco de estresse com o 190 e esperar (a solicitação) ir para uma central, sabe que é importante receber isso na central. Mas (quando chega lá), ela é distribuída ainda. No WhatsApp, já vai direto, já vai para o grupo com o major, tenente, capitão. E, com isso, a polícia vem conseguindo cumprir o objetivo que é cada vez mais fazer a integração com a comunidade”.

Já a juíza Graça Boness, diretora fiscal da Associação dos Moradores do Loteamento Pedra do Sal, ressalta o aumento da sensação de segurança. “Cria um grupo de solidariedade. A gente tenta dar o máximo de informação e temos a garantia do anonimato, para não dizer que foi esse ou aquele morador. A confidencialidade é importante para também não deixar o vizinho em situação de risco”.

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