Vizinhos resgatam idosa que vivia trancafiada há anos em Salvador
Ter uma velhice tranquila, viver em um ambiente saudável e seguro, além de contar com o amor e o carinho de filhos e netos, é o sonho de muitos idosos. Mas, infelizmente, essa é uma realidade ainda muito distante para alguns e para uma senhora de 62 anos que foi resgatada na tarde desta segunda-feira, 20, por agentes do Samu. Ela estava em uma casa, no Curuzu, em Salvador
A idosa era mantida trancafiada há anos no imóvel de número 292, na Rua do Curuzu, em frente à Casa de Carne Merica, segundo os vizinhos. Foram eles que a encontraram na manhã desta segunda, caída no chão da cozinha, completamente nua e desfalecida.
Revoltados, os vizinhos revelaram que a idosa, identificada como Carmem Antonieta dos Santos Santiago, ou simplesmente Verinha, e foi trancada no imóvel pela própria filha, uma mulher de prenome Lilian. Verinha tem transtornos mentais. Lilian mora ao lado da casa da mãe, mas não estava no imóvel na hora do resgate.
“Ela sempre ficou presa. ficava na janela gritando. A gente que alimenta ela, dá pão, comida. Mas hoje não a vimos e estranhamos e, quando fomos ver, ela estava deitada no chão. Achamos que estava morta e arrombamos a casa”, disse um morador.
Conforme ele, a idosa tem um filho que também tem distúrbios mentais e vive perambulando pelas ruas, desde que Lilian o colocou para fora de casa. “Ela é uma miserável, fez isso com o irmão doente, faz isso com a mãe. A filha dela [de Lilian] vai fazer o mesmo com ela”, desabafou uma mulher, sob anonimato.
Abandono total
A delegada Laura Argolo, titular da Deati, disse não acreditar no ‘jogo de empurra’ relatado pelos vizinhos. “Não recebemos nenhuma denúncia. Vamos apurar esse caso. É a nossa missão”, garantiu.
Segundo ela, a princípio, a filha poderá ser responsabilizada por abandono material e intelectual. Contudo, somente após a investigação terá como saber se o fato também se enquadrará como cárcere privado. “Não podemos falar muita coisa sem antes averiguarmos a situação, mas pelo o que foi relatado, é um caso de abandono total”, avaliou a delegada.
Dificuldade para atendimento
Os vizinhos de Verinha disseram que ligaram para o 190 (Central de Polícia) para o Samu e para a Delegacia Especial de Atendimento ao Idoso (Deati). Contudo, encontraram dificuldades para serem atendidos. “Ficaram no jogo de empurra. A polícia disse que só viria com o Samu, que por sua vez disse que só viria com a polícia. Na Deati disseram que era abandono e não poderia fazer nada. Aí me deram esse número [3202-2304] da assistência social, mas liguei, liguei e ninguém atendeu”, afirmou o caldereiro Deilson Andrade, 34.
A reportagem também entrou em contato com o 190 e com o Samu e recebeu a mesma informação. No entanto, apesar das negativas, por volta das 13h45, uma ambulância do Samu chegou ao local. A reportagem não conseguiu identificar para qual hospital dona Verinha foi levada.