Fale Direito: O urso e os viajantes

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Escrevo nesta semana em homenagem aos amigos verdadeiros e em exaltação a este sentimento, que, sem dúvida, é dos mais nobres.

Dois viajantes encontraram um urso na estrada.

O primeiro subiu numa árvore e se escondeu.

O outro, apavorado, resolveu se jogar no chão e se fingir de morto. O animal chegou perto, cheirou as orelhas dele e foi embora. Dizem que um urso não mexe com quem está morto.

O que estava na árvore desceu e perguntou ao companheiro o que é que o urso tinha cochichado.

- Ele me disse para não viajar mais com quem abandona os amigos na hora do perigo.

Esta estoriazinha de Esopo nos revela que é na dificuldade que se prova a amizade. Para entender estórias sobre a amizade é necessário que se adote a perspectiva do amigo, da solidariedade com o outro.

Parece-me que amizade é mais que afinidade e envolve mais que afeição. Ela possui certas “exigências” como franqueza, sinceridade, aceitar com a mesma seriedade as críticas e os elogios do amigo, lealdade incondicional e auxilio a ponto do sacrifício. A amizade genuína requer tempo, esforço e trabalho para ser mantida. É algo profundo, é uma forma de amor.

James Boswell (1740-1795), advogado escocês famoso pela biografia de Samuel Johnson, disse uma vez que “não sabemos dizer o momento preciso em que se forma a amizade. Ao enchermos um jarro gota a gota, a última faz o jarro transbordar; assim, numa série de gentilezas há uma última que faz transbordar o coração”. Ele também aconselhou a encher a vida de amizades antigas e novas, pois, uma vez formada, a amizade deve ser reabastecida de tempos em tempos, portanto permanece em “manutenção constante”.

Se o texto até agora soa meio clichê, vou mergulhar agora profundamente na amizade em Aristóteles (Da ética a Nicômaco). Para ele os antigos colocavam a amizade entre as mais altas virtudes. Era um elemento essencial à felicidade e ao pleno florescer da vida. “Pois sem amigos”, diz Aristóteles, “ninguém escolheria viver, apesar de todos os outros bens”. Como estas palavras precisam ser mais lembradas neste mundo de tantos “bens” perecíveis.

Ainda segundo o grande filósofo, a amizade ou é, ou envolve, um estado de caráter, uma virtude. Há três tipos de amizade: fundamentada no prazer recíproco da companhia (amizade de prazer), na utilidade da associação (amizade de utilidade) ou na admiração mútua (amizade na virtude). Todas são essenciais à vida plena e os amigos de melhor qualidade não só apreciarão a excelência do outro, mas terão prazer em sua companhia e encontrarão vantagens recíprocas na associação.

Pessoalmente sou muito resistente à amizade de utilidade, de conveniência, o pior é que é a mais preponderante atualmente. A minha preferida está calcada na admiração, na sua gratuidade. Acho que a amizade na virtude ergue a bondade como bandeira. Os amigos desejam o bem do outro de maneira semelhante e esta bondade traz em si um principio de permanência.

Acho extremamente cruel interiorizar esta idéia de amigos/inimigos ou inimigos/amigos. Esta sinergia exige uma desfaçatez incompatível com a forma que vejo o mundo e as pessoas – a sua razão principal.

Aos meus amigos, minha casa, meu coração, minha vida. Que bom andar nesta estrada com vocês, sabendo que se o urso aparecer, desapareceremos juntos na perspectiva de “um ao outro ajudou e ao seu companheiro disse: esforça-te!”.

Ricardo Sampaio é advogado com Mestrado em Direito pela Unicap e Professor do Curso de Direito da Uneb-Jacobina{jcomments on}

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