Cledson Marlos Pinheiro Sady
O mês de setembro ganhou a cor amarela para promover a discussão sobre o suicídio. Essa história começou nos EUA com o suicídio de um jovem de 17 anos, Mike Emme, que era conhecido por ser alguém pacífico e carinhoso e pelo seu Mustang amarelo. Em 1994 ele suicidou, sem que ninguém tivesse notado algum sinal de sofrimento.
Em 2003 a OMS instituiu o dia 10 de setembro como dia mundial de prevenção ao suicídio. O amarelo do Mustyang de Mike Emme foi a cor escolhida para representar a campanha.
No Brasil o setembro amarelo surgiu como campanha do MS em 2005. Acredita-se que cerca de 96,8% dos casos estejam relacionados com transtornos mentais, especialmente a depressão, transtorno afetivo bipolar do humor e abuso de substâncias psicoativas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ocorre um suicídio a cada 40 segundos no mundo. Morre mais gente por suicídio que por homicídio ou morte em guerra, segundo a mesma instituição. Especialistas em saúde pública acreditam em subnotificação de suicídio, quando o número oferecido pela OMS esteja subestimado.
Participei de concorrido curso na UFBA sobre o assunto: Suicídio: Saúde Mental, Trabalho e Educação; Reflexões críticas a partir do materialismo histórico dialético, com o psicólogo, Doutor em educação, professor da Universidade Federal de Uberlândia, Nilson Berenchtein Netto.
O curso de oito horas, com extenso conteúdo programático, não ficou no biologicismo, normalmente priorizado no tema, excluindo o entorno, supervalorizando o transtorno. O termo suicídio começou a ser utilizado num dado momento da história da humanidade, em contexto distinto, culturas e momentos históricos específicos. Não tem como causa apenas a falta de fé, prevalência biológica ou transtorno mental.
A sociedade evita discutir este tema, como sobre a morte em geral, por aparentarem assuntos depressivos, tristes, fechando os olhos para sinais e sintomas possíveis de serem trabalhados, não só no individuo, mas na sociedade.
Durante o curso o ministrante lembrou que em diversas civilizações onde a opção pela morte voluntária era aceita, desacompanhada da culpa, covardia ou pecado, observa-se o conceito de humanidade de cada uma delas, como deveríamos avaliar nossos hábitos nas sociedades capitalistas, onde o capital e os bens valem muito mais que o humano.
Essa opressão tem ampliado, desde o século XX, consideravelmente, casos de transtornos mentais. A busca de valorização exterior, o afastamento dos valores humanistas, a concorrência desenfreada, ganância e luta por espaço de destaque, numa sociedade que só pode oferecer vida boa a poucos, afeta a muitos.
A prevenção ao suicídio pode ser efetuada no momento da dor, da tristeza, da depressão, com atenção psicossocial, não apenas com medicalização (sem prescindir desta, bem indicada e executada), mas também a quem não foi afetado por um transtorno oficializado pela ciência. O esclarecimento sobre o porquê da vida e da morte, a oferta de espaços que gerem bem estar, convivência saudável e digna, valorizando os saberes e escolhas de cada um, previne suicídio e promove bem estar.
A promoção da vida deve ser estimulada por cada um dos entes federativos. A implantação e manutenção de espaços de convivência, estímulo ao belo e a cultura, valorização das tradições locais, busca por equidade e justiça social, faz a vida valer a pena e a morte ser apenas seu término natural. Assim, o suicídio será desestimulado.
Quando o fato estiver consumado, nos resta a posvenção, assegurando consolo, escuta qualificada, cuidado e orientações aos enlutados, tudo no tempo de cada um, respeitando a dor do outro.
Setembro 2021
Cledson Sady é escritor, Cirurgião Dentista, Sanitarista, Terapeuta Comunitário e Membro da Academia Jacobinense de Letras.
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