Dúvidas e inseguranças normalmente acompanham as mulheres grávidas ou que estão tentando engravidar. É natural que as preocupações com a gestação, o parto e o bebê aumentem nesse período de pandemia do novo coronavírus. Mas, afinal, o que sabemos até agora?
Reunimos as principais questões levantadas pelas gestantes e consultamos o médico Murilo Oliveira, especialista em Obstetrícia, Ginecologia e Reprodução Assistida, para responder os questionamentos e falar sobre a relação entre a gravidez e o agravamento dos sintomas da Covid-19.
1. É indicado adiar o desejo de engravidar por conta da pandemia?
O momento que o casal decide engravidar é sempre muito individualizado. Mas, para os casais em que esperar algum tempo não represente impactos significativos do ponto de vista reprodutivo, o ideal seria aguardar um tempo para iniciar as tentativas.
Apesar do avanço da ciência a cerca da Covid-19, ainda é muito cedo para atestarmos com segurança os impactos da doença na gestação. Além disso, independente do vírus, a própria gestação pode favorecer algumas situações que necessitem de internamento, isso acabaria sobrecarregando ainda mais o nosso sistema de saúde que já está sobrecarregado.
2. Quais os possíveis riscos da covid-19 para a gravidez?
Até o momento, não se tem relatos na literatura sobre impactos diretos do vírus no feto. Existe um trabalho publicado que se refere à transmissão da infecção da mãe para o bebê (transmissão intra-útero), contudo esse é um evento raro.LEIA MAIS...
Por outro lado, a doença tem sido associada ao aumento no número de partos prematuros. E neste caso, por ter nascido antes do tempo, o bebê pode apresentar problemas relacionados à prematuridade em si, não especificamente pelo vírus.
De qualquer forma, ainda é muito cedo para estimarmos o real impacto da doença na gestação.
3. Gestantes são mais vulneráveis ao vírus?
A gestante não apresentam uma vulnerabilidade maior ao vírus, quando comparado a adultos saudáveis da mesma faixa etária. Contudo, se tratam de duas vidas! Sendo que uma delas ainda está em formação. Então, todo cuidado é pouco.
4. Como se proteger do coronavírus durante a gestação?
É importante seguir todas as recomendações locais da secretaria de saúde. O Brasil é um país extremamente extenso e a contaminação se encontra em curvas diferentes em cada estado.
Uso de máscaras, higienização freqüente das mãos, evitar aglomerações e o distanciamento social, continuam sendo as principais recomendações.
5. Mãe com Covid-19 é indicação para cesariana?
Não existe uma indicação formal para via de parto nesses casos, todos devem ser individualizados. Durante o trabalho de parto normal, a gestante exige mais dos seus órgãos, como o coração e o pulmão. Naturalmente na ausência de infecção, esses órgãos trabalham com uma propriedade maior.
Em alguns casos, a infecção pela Covid-19 reduz a função pulmonar e a sua capacidade de trocas de oxigênio, podendo evoluir para um desconforto respiratório significativo. O mais importante é a gestante e o bebê estarem com os sinais vitais monitorizados durante todo o processo e ser acompanhada por uma equipe experiente.
6. O bebê pode ser infectado pela mãe durante a gestação, parto ou amamentação?
Os cuidados durante a gestação, parto e amamentação podem variar de acordo com a sintomatologia da gestante/mãe. Existe um estudo que relatou transmissão do vírus para o bebê enquanto ele estava no útero. Contudo, esse é um evento extremamente raro.
Durante a amamentação, pode ocorrer a transmissão pela via respiratória. Contudo os benefícios da amamentação parecem superar os riscos da infecção. Então, é compartilhado com a mãe a decisão de continuar ou não com a amamentação. Alguns cuidados são recomendados durante esse período, como por exemplo, lavar as mãos antes e após, uso de máscara, evitar que o bebê toque no rosto da mãe, dentre outros.
7. Qual fase da gravidez é mais arriscada para pegar o vírus?
Em todas as fases da gravidez, existe algum risco associado. O início da gravidez é quando o embrião está em desenvolvimento. Então, esse é um período em que poderia prejudicar a formação do bebê. Contudo, não foi demonstrado até o momento tal impacto.
No meio da gravidez, o risco maior é de prematuridade. Em que o bebê ainda precisa do ventre materno para o seu completo desenvolvimento. No final da gravidez, a própria gestação já exige muito dos órgãos da mãe. O coração e o pulmão materno começam a funcionar em um ritmo maior do que o habitual, por exemplo. E a infecção pode acabar solicitando mais desses órgãos do que eles podem oferecer.
Então, a infecção em todas as fases têm o potencial de afetar negativamente o feto e a gestante.
8. Como fica o trabalho de parto durante a pandemia?
Em serviços bem estruturados, não há uma mudança significativa. A justificativa é que já existe uma rotina adequada para o monitoramento fetal e materno durante todo trabalho de parto. Além disso, a equipe sempre fica a disposição para atuar rapidamente de acordo com a necessidade de cada paciente. De qualquer forma, estamos em treinamento contínuo para oferecer a melhor assistência e minimizar os possíveis riscos.
9. Com receber uma parturiente com Covid-19?
As unidades devem criar protocolos, de acordo com as suas necessidades e sua estrutura, para garantir proteção à equipe que dará assistência à futura mamãe, aos demais pacientes do hospital (que devem estar separados das pacientes que não tenham a infecção) e para o bebê que estar por vir. Todas as decisões devem ser compartilhadas entre os membros da equipe médica que atenderá a gestante.
10. Quais são as recomendações para o pós-parto no caso de mães infectadas?
Estar infectada nem sempre quer dizer necessariamente que a pessoa está sintomática. A maioria das gestantes infectadas apresentam sintomas leves.
Por isso, as recomendações devem seguir os protocolos dos órgãos de saúde e incluem:
– Lavar as mãos freqüentemente com água e sabão ou usar álcool em gel 70%.
– Manter o isolamento social e/ou espaço seguro entre as pessoas.
– Evitar tocar olho, nariz e boca.
– Utilizar lenço descartável se tiver vontade de tossir ou espirrar
– Se tiver sintomas relacionados ao Covid-19, procurar imediatamente atendimento em uma unidade de saúde.
– Seguir sua rotina de acompanhamento médico.
– Manter boas práticas durante a amamentação e discutir custo x benefício com a equipe que faz o acompanhamento.