Cada vez mais usamos o espaço aéreo, disputando-o com os pássaros. Seja para transporte, geração de energia ou segurança, invadimos um habitat e, de acordo com um relatório publicado na revista Science nessa sexta-feira, essa batalha pelo céu entre homens e aves traz graves riscos para as duas espécies. Segundo a equipe de pesquisadores responsável pelo estudo, as colisões de pássaros com prédios, aeronaves, antenas, linhas de transmissão de energia e, recentemente, drones resultam na morte de milhões de animais, aumentando o risco de extinção de diversas espécies. Entre os humanos, os choques no céu causaram mais de 200 mortes, milhares de aeronaves danificadas e um prejuízo anual de mais de 900 milhões de dólares nos Estados Unidos. No país, as colisões aumentaram seis vezes nas últimas duas décadas e, em 2013, foi registrado o número recorde: 11 315. Além das mortes, o uso humano do espaço aéreo modifica os fluxos de ar, afetando a distribuição e no habitat de algumas espécies. Outro ponto levantado pelos pesquisadores é a interferência humana na "microbiota aérea": organismos como algas e bactérias que vivem nos céus e contribuem para a formação de nuvens e sua condensação, influenciando o clima. A produção de poluentes afetaria esse sistema, causando problemas tanto para os humanos quanto para os pássaros. Atualmente, algumas medidas para evitar as colisões são marcar janelas, para que as aves consigam enxergar que há um obstáculo adiante, e retirar torres eólicas que não estão em uso para diminuir o risco das batidas. Há também medidas que contam com o uso de tecnologia, como o uso da luz ultravioleta, que ajuda os pássaros a ver as janelas, ou radares que possibilitam a mudança da velocidade de turbinas em um avião, evitando os acidentes. Mas o relatório aponta que seria necessário mais que isso. É preciso uma gestão ambiental que entenda os detalhes do movimento aéreo dos animais, discutindo questões como alturas consideradas de risco (a maior parte dos pássaros voa a uma altura de 120 metros) e movimentos migratórios. Além disso, para evitar as ameaças à biodiversidade, medidas pontuais poderiam incluir a proibição de construções nocivas às aves e de usinas eólicas em regiões migratórias, além da redução da poluição luminosa, que pode perturbar os padrões de movimento dos animais.. "Há vários níveis para enfrentar o conflito aéreo: identificação de espaços aéreos com alta densidade de pássaros selvagens, onde possam ser criadas reservas naturais de ar; de locais onde homens e pássaros colidem com mais frequência e onde atitudes mais sérias possam ser tomadas para reduzir o conflito; e uma série de medidas padrão, como sistemas de luz, que podem ser implementadas nos locais onde há riscos de colisão", sugerem os pesquisadores no estudo.