Há um ano, Rogério Ceni desembarcou em terras baianas. Na época, o objetivo do treinador no clube era muito claro: apagar um incêndio intenso, com chamas tão fortes que o ‘professor’ anterior não mais tinha chances de conter. No fim da temporada passada, a luta para escapar do rebaixamento foi vencida, mas, acostumado a sonhar alto desde que começou sua trajetória no futebol, nada menos do que alcançar os céus parecia pouco para os desejos do recém-chegado técnico — e da torcida.
No entanto, assim como na vida, no futebol há um abismo bem grande entre o que é desejado e o que necessariamente se torna realidade. A trajetória de Ceni no Tricolor Baiano é, até o presente momento, marcada por um claro potencial de ser grandiosa, mas concretamente não foi efetiva naquilo que faz os torcedores mais passionais se contentarem: a conquista de títulos.
Em entrevista ao canal do YouTube Desimpedidos, o treinador já revelou que sua inspiração na profissão é Pep Guardiola, para muitos o atual melhor técnico do mundo. Guardadas as devidas proporções, por algumas vezes nesse período de um ano o futebol demonstrado pelo time de Ceni empolgou os baianos tal qual a torcida azul de Manchester já se animou com o ‘tiki-taka’ de Guardiola. Não por acaso, o Esquadrão chegou a vencer (e convencer) em partidas contra o Botafogo, Grêmio e Fluminense, na Série A, por exemplo.
A grande diferença se dá pelo fato do City ser dominante na Inglaterra desde a chegada do técnico espanhol, e isso pode ser constatado factualmente ao se observar a galeria de troféus recentes dos ‘Citizens’. Na Bahia, por outro lado, embora os comandados por Rogério Ceni já tenham encantado os olhos dos amantes da bola, a equipe ainda não gritou “é campeão!” — no Campeonato Baiano viu o título escapar e ir direto para o maior rival na final; e no Nordestão, mesmo com o favoritismo pleno no torneio, foi eliminado precocemente pelo CRB na semifinal da competição.
Superar o limite
A Copa do Brasil é justamente o meio que sobrou para Ceni alcançar as estrelas ainda esse ano com o Bahia. Entretanto, levantar esse troféu que inédito tanto para o treinador quanto para o clube baiano desafia limites.
Quando os torneios chegam em sua fase de mata-mata dão luz ao ‘calcanhar de Aquiles’ do comando de Rogério no Tricolor, já que foi quando o time baiano disse adeus às competições esse ano. Mas, outro limite precisa ser superado: nunca desde que trocou as luvas pela prancheta, em 2017, o técnico conseguiu vencer o Flamengo, adversário das quartas da eliminatória.
A derrota por 1 a 0 do Bahia em Salvador, pela partida de ida, aumentou o jejum de Ceni contra o ex-clube: já são 13 derrotas consecutivas diante do Mengão. O Tricolor também tem péssimos números recentes diante dos cariocas: nove derrotas em sequência.
Débito com a torcida?
Independentemente de tabu e favoritismo do adversário, em entrevista concedida ontem, o treinador do Bahia admitiu se incomodar com o fato de não ter sido campeão ainda pelo Esquadrão, mas pontuou melhora da equipe e esperança para terminar a temporada com créditos com a massa azul, vermelha e branca.
“Sei que estamos em dívida com o torcedor, que poderia ser um título no estadual ou na Copa do Nordeste. Pelo menos um desses títulos. É uma dívida que eu tenho. [...] É uma pena não ter um título estadual para o torcedor comemorar. A gente espera devolver em coisas positivas até o final do ano”, comentou o técnico.
Talvez o que tenha até aqui deixa do a relação das arquibancadas com o treinador seja a equipe no Campeonato Brasileiro ter estado brigando desde começo na parte de cima da tabela, algo que Ceni também comentou ontem.
“Não é fácil se manter na ponta da tabela. Mas eu tenho foco e objetivo naquilo que eu quero, o grupo também, o Grupo City no que foi desejado no começo do ano. E eu vou tentar até o último segundo entregar o que planejei com o grupo que nós temos para trabalhar. Para que, no ano que vem, a gente tenha calendário completo e, se possível, a principal competição internacional que seria o nosso objetivo. Vamos lutar até o final. E eu conto sempre com aquela atmosfera em casa”, acrescentou.
Pelo Tricolor de Aço, o aproveitamento de Ceni de 59,8%, visto que em 68 partidas, ficou com o resultado positivo em 37 jogos, empatou em 11 e foi superado em 20 ocasiões.
A Tarde