Às vésperas do Carnaval, Santo Antônio tem 13 imóveis com risco de desabamento

Laudo indica imóveis com risco de desabamento no Santo Antônio

 

As recomendações feitas pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) para o Carnaval no Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, levaram em consideração queixas de moradores do bairro. Entre elas, a poluição sonora e o acúmulo de lixo. Mas não só isso. O risco de pelo menos 13 imóveis tombados desabarem é uma das preocupações do órgão. 

A promotora Cristina Seixas, que assina as recomendações para a festa, cita um levantamento feito pela Defesa Civil de Salvador (Codesal) em 2024. "A Codesal identificou no bairro do Santo Antônio Além do Carmo e adjacências 13 imóveis tombados com risco de desabamento e/ou deteriorados, os quais, inexoravelmente, podem ter suas estruturas abaladas, caso haja a circulação excessiva de foliões, de trios elétricos ou equipamentos que produzam excesso de emissão de decibéis", pontua no documento o qual a reportagem teve acesso. 

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Entre as medidas listadas pelo MP-BA para o Carnaval no bairro estão a proibição de trios elétricos e limite de blocos e público. O documento foi assinado na quinta-feira (6) e encaminhado à prefeitura de Salvador, associação de agremiações e moradores. Mais de 10 blocos estão confirmados para o desfile deste ano. O mais famoso deles, o De Hoje a Oito, espera receber cerca de 25 mil foliões. 

O MP-BA instaurou procedimentos para verificar quem são os proprietários dos imóveis visando solicitar ações de restauro ou demolição, a depender da posição do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

"Por se tratar de um patrimônio, o processo exige muita cautela e cuidado. Pedimos uma nova vistoria para a Codesal e estamos aguardando o relatório final para tomarmos uma posição. Na última semana, recebemos a informação de que alguns imóveis já estão com o risco reduzido", disse a promotora em entrevista ao CORREIO. Procurada, a Defesa Civil de Salvador, disse que os 13 imóveis passaram por avaliações. 

Cristina Seixas diz que o Ministério Público realiza reuniões periódicas com as associações de moradores, de blocos e de comerciantes, com entidades da Prefeitura de Salvador envolvidos diretamente com o evento, como as polícias Civil e Militar.

"Tem um arcabouço de reuniões muito forte para que todos os órgãos possam fazer seu papel para garantir a segurança de quem vai para a festa, dos moradores e dos comerciantes"

Cristina Seixas

Promotora do MP-BA

O MP-BA instaurou um procedimento em 2022 visando reconhecer a área como um local que necessita de atenção especial. O objetivo é garantir a regulação dos eventos na região.

"O Santo Antônio é um bairro residencial, que vem tomando uma vertente boêmia, que tem gerado prejuízos aos direitos dos moradores do bairros. Não se pode ter festas ou pessoas em excesso por lá porque é um bairro histórico, com ruas pequenas. É importante tomar cuidado ao estabelecer um evento na região", completa Cristina Seixas. 

O diretor-geral da Defesa Civil de Salvador, Sosthenes Macêdo explica que o MP-BA solicitou uma vistoria nas 13 edificações, realizada pelo órgão em conjunto com o Iphan e pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur) na última semana.

A reportagem tentou acesso ao relatório, mas segundo Sosthenes, o objeto não pode ser repassado devido à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). A Sedur foi procurada, mas não se manifestou sobre a situação dos edifícios até esta publicação.

Diretor da Defesa Civil diz que o reparo dos imóveis é de responsabilidade do proprietário e deverá ser acompanhado pelo Iphan. "Alguns imóveis necessitam de um auxílio com o uso de tapumes ou a retirada da vegetação. Outros receberam solicitação para a remoção de fachada ou reparo no escoramento metálico que já apresenta sinais de desgaste e corrosão", afirma.

"As solicitações foram encaminhadas para os responsáveis e, em casos de intervenção mínima, como instalação de tapumes ou podas, enviadas para a Secretaria Municipal de Manutenção (Seman)", completa o diretor da Defesa Civil. 

Risco iminente 

Apesar da recomendação mais recente do MP-BA não citar quais são os imóveis com possibilidade de desabamento, um parecer feito pela Central de Apoio Técnico do órgão, em janeiro do ano passado, identificou estruturas com risco iminente. O laudo, o qual o CORREIO teve acesso, é assinado por um engenheiro e tem 65 páginas. 

Laudo foi realizado em 2024
Laudo foi realizado em 2024 Crédito: Reprodução

Cinco localidades têm as estruturas mais precárias: Rua Direita do Santo Antônio, Ladeira do Carmo, Ladeira do Boqueirão, Rua dos Adobes e Largo do Carmo. O laudo indica necessidade imediata de isolamento das vias e inspeções técnicas. 

As imagens presentes no laudo chamam atenção. Estruturas de suporte instaladas para sustentar fachadas têm corrosão severa, enquanto fachadas de diversos casarões apresentam rachaduras profundas e desprendimento de materiais decorativos. 

"É necessário tomar medidas urgentes para garantir a estabilidade dessas construções históricas e evitar acidentes", pontua o avaliador, após mencionar que as estruturas possuem "risco iminente de desmoronamento".

Sobre a situação precária dos imóveis, o diretor-geral da Codesal ressalta que o órgão realiza vistorias rotineiras no Centro Histórico com o objetivo de informar os proprietários, o Iphan e o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac).

Ao todo, 2.969 casarões já foram visitados pela Codesal. Entre as edificações, 109 encontram-se em risco muito alto de desabamento; 342, alto; 1.656, médio; 677, baixo e 185, sem risco.

O Santo Antônio integra o conjunto urbano do Centro Histórico de Salvador, tombado pelo Iphan em 1959 e declarado Patrimônio Mundial pela Unesco em 1985. O Iphan, autarquia federal, foi procurado, mas não se manifestou sobre o laudo técnico que avaliou as condições dos imóveis tombados. 

Quanto a realização do Carnaval na região, Sosthenes Macêdo relata que a Defesa Civil realiza reuniões com o Conselho Municipal do Carnaval e Outras Festas Populares (Comcar) e a Empresa Salvador Turismo (Saltur) para dar orientações quanto a melhor forma de garantir a segurança dos foliões.

"O tipo do Carnaval precisa estar de acordo com a realidade do bairro. O Centro Histórico passou por muitas reformas, ainda assim são edificações centenárias, com algumas em estado de ruínas ou de degradação avançada. É importante que a festa se adeque ao ambiente para assegurar a segurança de quem está no local"

Sosthenes Macêdo

Diretor-geral da Defesa Civil de Salvador

Na semana passada, parte do teto da Igreja de São Francisco de Assis, no Pelourinho, desabou, provocando a morte de Giulia Panchoni Righetto, turista de São Paulo de 26 anos.  

Correio 

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