Descoberta arqueológica Crédito: Divulgação/ Feijão Almeida GOVBA
Mais de 800 fragmentos e 11 ossadas completas já foram removidos e catalogados após a descoberta de um cemitério colonial dos séculos 17 ao 19 sob o solo de Santiago do Iguape, no município de Cachoeira, no Recôncavo da Bahia. A novidade surgiu durante as escavações da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado (Conder) para a construção de uma praça ao lado da Igreja Matriz.
Apareceram também indícios de sambaquis – antigos montes de conchas e restos de alimentos formados por comunidades ribeirinhas. Esses sambaquis são típicos de populações que dependiam da pesca e da caça, e sua presença na região é uma revelação importante sobre a ocupação pré-histórica do Recôncavo Baiano.
"É um achado inédito para essa área", afirmou Bruna Brito, arqueóloga responsável pela escavação. "Os sambaquis, que geralmente são encontrados nas margens de rios e mares, indicam uma ocupação muito mais antiga do que a da colonização portuguesa." Cerca de duas mil pessoas já visitaram o local desde a descoberta, divulgada nesse final de semana.
Além disso, foram encontrados enterramentos indígenas ao lado de um cemitério cristão, o que evidencia a convivência de diferentes povos no mesmo espaço. "Isso revela uma história de ocupação e convivência complexa e multifacetada. Não se trata apenas de um cemitério cristão, mas de uma camada de história que inclui a presença dos primeiros habitantes da região, suas práticas culturais e os efeitos da colonização", disse a arqueóloga.
Segundo Olmo Lacerda, arquiteto da Conder, a descoberta transformou completamente o projeto da obra. "Nossa expectativa era seguir com a construção da praça, mas a emergência de um sítio arqueológico tão significativo mudou tudo. Agora, a preservação dos achados é nossa prioridade, e estamos trabalhando em colaboração com os arqueólogos para garantir que cada fragmento seja estudado com o devido cuidado."
De acordo com o governo estadual, o protocolo de escavação segue as diretrizes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que exige uma análise de impacto arqueológico antes de qualquer obra em áreas de valor histórico. O objetivo é proteger e preservar vestígios culturais, para que não sejam destruídos no processo de urbanização. Cada fragmento encontrado será analisado detalhadamente, e alguns serão enviados para o Laboratório de Osteoarqueologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI), onde passarão por testes de DNA e outras análises avançadas para revelar origens e datas de sepultamento.
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