O Papa Francisco aterrissa em solo iraquiano consciente de todos os riscos da combinação explosiva de pandemia e extremismo que o país oferece. A 33ª viagem ao exterior abarca o ineditismo: pela primeira vez o pontífice de 78 anos se deslocará em veículos blindados e estará afastado das multidões.
As condições adversas de segurança e as advertências de eventos propagadores do novo coronavírus não demoveram Francisco a prosseguir na que já é considerada a peregrinação mais difícil de seu pontificado: 1.600 quilômetros percorridos, a maior parte em avião, por seis cidades de norte a sul do país.
O Papa quebra um jejum de 16 meses, período em que esteve encerrado no Vaticano pela força da pandemia. Todos os membros de sua comitiva chegam ao Iraque vacinados contra a Covid-19, ao contrário dos iraquianos, que estão sob bloqueios parciais e toque de recolher, tendo em vista o recrudescimento das infecções, com 54 mil casos nas duas últimas semanas.
Os eventos serão restritos a 100 pessoas, exceção para uma celebração com os cristãos caldeus, num estádio aberto para 10 mil em Erbil. Francisco verá de perto igrejas e santuários atingidos por bombardeios ou pela ação de terroristas.
O que explica essa missão tão perigosa, com contornos de aventura, num momento impróprio? Como ele justificou numa mensagem, o encontro com cristãos iraquianos já está atrasado 22 anos, quando o antecessor João Paulo II foi proibido de viajar ao país. Na época, eles eram 1,5 milhão; hoje, são entre 200 mil e 300 mil, num cálculo impreciso pela ausência de censos no país.
Francisco quer ver a comunidade católica amparada e convencida a não emigrar.
O diálogo inter-religioso, a outra marca de seu papado, estará em evidência nesta missão, num encontro inédito com o líder dos xiitas iraquianos, o clérigo Ali al-Sistani, na cidade santa de Najaf. O ponto alto da viagem de quatro dias será a visita ao sítio arqueológico de Ur, que se acredita ser o local de nascimento de Abraão, patriarca das religiões judaica, cristã e muçulmana.
Francisco persiste no caminho da aproximação e da reconciliação com o mundo islâmico, tenta consolidar o papel de missionário, engajado na solução dos conflitos do Oriente Médio, após o hiato forçado pela pandemia. No seu entender, os riscos desta peregrinação valem o compromisso.
Fonte: G1