Já era o tempo em que o Carnaval significava alegria e descontração, festa social com objetivo de comemorar o início da quaresma com a união das pessoas, independente de raça ou cor, através da folia. Quem diria que um evento criado pela igreja católica tomasse contornos tão diferentes. Perturbação, confusão, indisciplina, desobediência, tumulto, desordem e outros tantos substantivos do tipo podem ser usados para interpretar a festa popular mais famosa do mundo.
Enquanto no passado as pessoas se vestiam de maneira diferente da habitual, com trajes divertidos e inusitados como as ‘caretas’, as mortalhas e outros, o que se vê atualmente são corpos expostos, onde os adereços são as partes íntimas dos despidos. A liberdade aceitável do período momesco se transformou em libertinagem, com a falta de pudor imperando em todos os sentidos. Está tudo deturpado; o folião perdeu o sentido ao desrespeitar o próximo e muitos cantores ficaram sem noção com composições musicais desprezíveis, preconceituosas, discriminativas e com incitação ao sexo e a violência. Como diz o bom baiano, virou ‘um mangue’.
Tais comportamentos, não generalizados, já que muita gente do bem, inclusive famílias com crianças curtem a festa e pregam a paz, têm descaracterizado os tradicionais festejos, sejam eles nas capitais e nos interiores. A banalização da violência não é mais prerrogativa apenas de cidades grandes. Brigas, roubos, uso de drogas e até mesmo atos obscenos em público têm afugentado o público de festejos tradicionais de rua. Para se divertir com segurança o pândego precisa desembolsar muita grana.
Misericórdia, coitado do Carnaval, é muita coisa ruim para um evento só. Mas não se apoquente, onde existe o negativo também existe o positivo para contrapor; as pessoas do bem continuarão existindo em maior número, e como festa envolve gente não será difícil se divertir com os bons.
Se precaver deve ser o principal comportamento dos que defendem a tese de que “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”.
“Lembro com muita saudade
Daquele bailinho
Onde a gente dançava
Bem agarradinho
Onde a gente ia mesmo
É pra se abraçar...” – A raposa e as uvas – Reginaldo Rossi.
Por Gervásio Lima
Jornalista e historiador