Nidia Montenegro, de 52 anos, fugiu da violência e da miséria na Venezuela e, durante sua jornada rumo ao México, sobreviveu a um sequestro. Ao chegar a Tijuana, uma cidade fronteiriça, ela aguardava ansiosa pela entrevista de asilo que a reuniria com seu filho, residente em Nova York. Porém, no domingo (20), seu agendamento foi abruptamente cancelado.
Enquanto o presidente Donald Trump declarava emergência nacional na fronteira sul, imigrantes como Nidia, que estavam no México, verificavam ansiosamente o aplicativo do governo dos EUA, o “CBP One”, utilizado para agendar entrevistas de asilo.
Ao atualizar o app, uma mensagem apareceu, chocando os presentes: “Entrevistas já agendadas pelo CBP One não são mais válidas”.
O impacto foi imediato, e um clima de incredulidade tomou conta do abrigo em Tijuana, que ficava a poucos metros da fronteira. Nidia, com lágrimas nos olhos, exclamou: “Eu não acredito. Não, Deus, não.”
As autoridades de fronteira dos EUA confirmaram que o aplicativo foi desativado e todos os agendamentos previamente marcados foram cancelados. Nidia fazia parte de um grupo de imigrantes que, a poucos dias de suas entrevistas, viram suas esperanças de chegar aos Estados Unidos de maneira legal se desvanecerem. Ao seu redor, outros também estavam em pânico, tentando, em vão, acessar o aplicativo enquanto o desespero tomava conta. Alguns receberam mensagens de e-mail confirmando o cancelamento, enquanto outros não conseguiam sequer abrir o app.
Essa foi uma das primeiras medidas adotadas pela administração Trump, que já havia prometido enviar tropas para a fronteira, intensificar as deportações e classificar os cartéis de drogas como organizações terroristas estrangeiras.
A Reuters acompanhou a jornada de Nidia por dois meses, desde a empolgação ao conseguir uma entrevista marcada para quarta-feira, 22 de janeiro – apenas dois dias após a posse de Trump – até a frustração do cancelamento.
Outras cidades da fronteira também vivenciaram situações semelhantes. Em Ciudad Juarez, do outro lado de El Paso, no Texas, migrantes com entrevistas agendadas pelo CBP One para aquela segunda-feira também foram surpreendidos com cancelamentos.
“Acabou, eles tiraram tudo”, lamentou Margelis Tinoco, uma colombiana que viajava com seu marido e filho. “Eles bloquearam”, disse ela ao filho de 13 anos. “Não há mais nada que possamos fazer.”
Em Piedras Negras, na fronteira com Eagle Pass, Texas, imigrantes com agendamentos enfrentavam a mesma situação. Com mochilas e cobertores em mãos, tentavam entender o que fazer a seguir enquanto descansavam encostados em uma parede. Alguns, em estado de choque, mandavam mensagens de voz emocionadas para suas famílias.
Para Nidia Montenegro, o golpe foi ainda mais devastador. Chegou a Tijuana com um sorriso no rosto, cheia de expectativas de reencontrar seu filho após mais de um ano separados. “Hoje minha vida recomeça”, disse, otimista, à Reuters.
No entanto, sua trajetória não foi fácil. No ano anterior, ela e dois sobrinhos foram sequestrados junto com várias outras pessoas, incluindo crianças, no momento em que chegaram ao sul do México. Dois dias depois, conseguiram escapar, mas o trauma a acompanharia por muito tempo.
Agora, Nidia se vê sem direção, em uma cidade estrangeira, a milhares de quilômetros de casa, e a poucos metros do país onde esperava começar uma nova vida. Ainda em choque com o cancelamento de sua entrevista, ela insiste que não desistirá. “Eu vou à minha entrevista”, afirma, mesmo sabendo das dificuldades enfrentadas por outros que também foram barrados na fronteira.
Fonte: g1
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