O pedido de prisão de cinco suspeitos de planejar em 2022 o assassinato do então presidente eleito, Lula (PT), de seu vice, Geraldo Alckmin, e do ministro Alexandre de Moraes (STF) foi feito pela Polícia Federal na quinta-feira (14), um dia após o atentado na praça dos Três Poderes em que um homem se explodiu em frente à sede do Supremo Tribunal Federal.
O próprio ministro Moraes autorizou três dias depois, no domingo (17), a operação realizada nesta terça-feira (19). A PF cumpriu mandados de busca e apreensão e de prisão de quatro militares e um policial federal.
Também no dia seguinte ao atentado tanto Moraes e como o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, anteciparam conclusões que atrelam o episódio aos inquéritos que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados.
Ambos disseram que o atentado ao STF não foi um fato isolado e indicaram relações com os outros casos relatados por Moraes relacionados a ataques às instituições.
Na última quarta-feira (13), Francisco Wanderley Luiz explodiu uma bomba na cabeça após atirar outras duas em direção ao prédio do STF. A Polícia Militar do Distrito Federal desativou ao menos oito explosivos na região durante a madrugada.
No dia seguinte, Moraes afirmou que não se tratava de um caso isolado e criticou as mobilizações pela anistia dos participantes do ato golpista de 8 de janeiro de 2023.
“Não podemos ignorar o que ocorreu ontem (13). O que aconteceu ontem não é um fato isolado do contexto. (…) mas o contexto se iniciou lá atrás, quando o ‘gabinete do ódio’ começou a destilar discurso de ódio contra as instituições, contra o STF, principalmente contra a autonomia do Judiciário”, disse Moraes.
Também na noite de quarta (13), pouco antes do atentando, um encontro capitaneado pelo presidente Lula, no Palácio da Alvorada, reuniu ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e os chefes da PGR (Procuradoria-Geral da República), Paulo Gonet, e da Polícia Federal, Andrei Rodrigues. Nenhum dos presentes explicou a a razão do encontro nem o teor da conversa.
Foram presos nesta terça o general da reserva Mario Fernandes, os tenentes-coronéis Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo e o policial federal Wladimir Matos Soares.
De acordo com a Polícia Federal, os quatro militares chegaram a se deslocar para Brasília em 15 de dezembro com o objetivo de prender e matar o ministro do STF.
“As mensagens trocadas entre os integrantes do grupo ‘Copa 2022’ demonstram que os investigados estavam em campo, divididos em locais específicos para, possivelmente, executar ações com o objetivo de prender o ministro Alexandre de Moraes”, diz a denúncia da PF, citada na decisão do ministro.
O grupo ‘Copa 2022’, no aplicativo Signal, tinha a participação dos acusados.
A Polícia Federal descobriu o plano, denominado Punhal Verde Amarelo, em um HD externo vinculado a Mário Fernandes, general que trabalhou no gabinete do deputado federal e ex-ministro da Saúde Alexandre Pazuello (PL-RJ).
General da reserva, Fernandes havia sido um dos alvos dos mandados de busca e apreensão cumpridos na Operação Veritatis, em fevereiro, que mirou aliados de Bolsonaro como os ex-ministros Walter Braga Netto, Augusto Heleno, Anderson Torres e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
A partir de informações colhidas na Veritatis, a PF também conseguiu confirmar as suspeitas de que, em uma troca de mensagens sobre o paradeiro de uma “professora”, Mauro Cid e Marcelo Câmara, assessor de Bolsonaro, usavam um codinome para se referir a Moraes.
O objetivo, porém, segundo a PF, ia além do monitoramento.
“As informações revelaram que as ações direcionadas ao Ministro Alexandre de Moraes não se restringiram ao monitoramento de seu itinerário durante o mês de dezembro. Em verdade, os dados obtidos demonstram que militares, em perceptível integração criminosa, planejaram e executaram uma operação clandestina com emprego de técnicas típicas de agentes de forças especiais”, afirma a denúncia.
Lula derrotou o então presidente Bolsonaro em 2022 após uma acirrada disputa de segundo turno. Durante seu mandato, o hoje inelegível Bolsonaro acumulou declarações golpistas e atualmente é alvo de investigação da PF sobre o seu papel na trama que tentou impedir a posse do presidente eleito.
Até aqui, os elementos de prova de atos de cunho golpista em 2022 geram controvérsia sobre qual seria o enquadramento criminal. O debate gira em torno da questão de quais condutas investigadas deixam de ser atos preparatórios de um crime –não puníveis– e passam a ser uma tentativa de cometê-lo.
Demétrio Vecchioli, Folhapress