Jacobina Mineração é responsável por manter 2,8 mil empregos e gerar cerca de 30% do PIB de município baiano
Reportagem: Donaldson Gomes | Correio 24 Horas; Foto: Iracema Chequer | Divulgação
A história de Jacobina, a pouco mais de 400 quilômetros de Salvador, se confunde com a da mineração. Quando a atividade vai bem, a cidade acompanha, e nos momentos em que a mina esteve parada, todos sentiram o efeito, conta Sandro Magalhães, country manager Brasil & Argentina no grupo Pan American Silver, detentor da Jacobina Mineração. A operação é responsável por manter 2,8 mil empregos e responde por aproximadamente 30% do Produto Interno Bruto (PIB) da cidade. Ações de responsabilidade de empresas como a Jacobina Mineração serão apresentadas durante o III Fórum ESG, promovido pelo CORREIO e o Alô Alô Bahia, nos dias 22 e 23 deste mês, no Porto de Salvador.
Quem é
Sandro Magalhães é country manager Brasil & Argentina no grupo Pan American Silver, detentor da Jacobina Mineração. Formado em Engenharia de Minas, atuando como executivo nas áreas de gestão empresarial do setor mineral, é o atual presidente do Sindicato de Mineração da Bahia (Sindimiba), membro do conselho de sustentabilidade da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) e vice-presidente do comitê que representa as mineradoras da Bahia.
Como foi o processo de amadurecimento da Jacobina Mineração em relação à agenda ESG?
Muito antes do nome ESG estar em voga, a Jacobina Mineração já vinha pensando em melhorias no seu processo de governança e nas ações de apoio à comunidade, principalmente na parte educacional, e nos cuidados com o meio ambiente. Ela sempre trabalhou nesta linha porque os cuidados ambientais, sociais e com uma gestão responsável fazem parte do nosso modelo de negócio. E eu não falo isso da boca para fora, existe um orçamento separado para isso, assim como temos para manutenção e a própria produção. Isso tudo faz parte dos valores da empresa. Não somos uma dessas empresas que ficam postando um monte de coisas nas redes sociais e quando você olha de perto descobre que não é nada daquilo. Quando colocamos o assunto como um valor, deixamos claro que temos esta responsabilidade, você só concretizar se trabalhar de forma estruturada. A gente investe muito em equipamentos e estrutura, mas o nosso maior orgulho está no desenvolvimento de uma cultura, um pensamento sustentável dentro e fora da empresa.
Se não for assim, torna-se algo falso, não é?
Veja, não adianta eu pegar um caminhão, ou uma máquina, pintar de rosa e postar no Linkedin, achando que estamos fazendo uma grande coisa. Não está fazendo nada. Só está fazendo algo quando contrata competência e respeita isso independente de a pessoa mais competente ser homem ou mulher. Na Pan American, como um todo, temos orgulho de ter mulheres atuando desde os cargos de operadoras, quanto em funções de liderança e chegando até à alta gestão da empresa. Nosso conselho saiu de 37% de mulheres em 2022 para 45% agora. É um motivo de grande orgulho para a gente.
Como este processo se desenvolveu?
Se você pensar em termos de grupos temáticos, depois internalizar o conceito e separar os recursos, um passo importante é ter grupos específicos trabalhando com os temas de meio ambiente, social e de governança.
Quando exatamente se iniciou este trabalho?
Este trabalho já estava contido nas políticas da antiga detentora da Jacobina Mineração. A partir de 2017 veio a ideia de dar passos maiores e dar mais peso para este fim. Por exemplo, tivemos a criação de um setor para pensar na relação com as comunidades. Na parte ambiental, contratamos especialistas para trabalhar com a gestão de águas, outros, internacionais, para entender o que havia de melhorar a se aplica. Em termos de governança, tanto os proprietários atuais quanto os antigos, possuem ações na bolsa e você não sobrevive se tiver problemas com governança.
Como é o processo de governança de vocês?
Nós temos um termo de referência que estabelece aquilo que é correto, atendendo a legislação, temos política antissuborno, anticorrupção, tolerância zero com assédio moral ou sexual. Tem valores que são inegociáveis. Tudo isto está em nosso código de conduta e todo semestre treinando os nossos trabalhadores. Nós fazemos o treinamento e passamos por processos de auditorias internas e externas. Além disso, é ter políticas sérias de contratação e um movimento de adequação contínua. Não adianta dizer que abre espaço para mulheres e não oferecer um espaço de trabalho adequado para elas. O macacão precisa ser adaptável ao corpo da profissional quando ela engravida. Nós fizemos isso há alguns anos, temos uniformes especiais. A gente também valoriza muito a nossa prata da casa. Vários profissionais que começaram em Jacobina hoje estão em empresas de todo o mundo. Temos que contar isso com orgulho.
As empresas do setor mineral já amadureceram no sentido de mostrar mais à sociedade as suas operações?
As empresas mineradoras sempre foram muito fechadas, apesar de terem melhorado muito. Hoje na Bahia, as 11 mineradoras associadas estão muito animadas em mostrar cada vez mais o trabalho que a atividade realiza. Veja, não existe vida sem mineração e isto não vem de agora, desde a pré-história, o homem depende da mineração para sobreviver. Se pensarmos na vida moderna, ela não existe sem a mineração. Eu estou falando de medicamentos, de aparelhos eletrônicos, do próprio celular que algumas pessoas utilizam para criticar a mineração. A vida humana está ligada à mineração e ela não deveria ser penalizada como setor quando uma empresa cometeu algum tipo de erro, ou causou algum acidente grande. O que a gente tem que melhorar os nossos padrões, perseguir a excelência e subir nossos padrões para evitar que eventos indesejáveis aconteçam. Nosso papel é melhorar a vida de pessoas através da transformação mineral e eu não falo apenas sobre questões financeiras. Nós chegamos onde nenhum outro tipo de indústria consegue chegar e transformamos a vida das pessoas. O trabalhador, que muitas vezes concluiu a muito custo o segundo grau, vai trabalhar numa empresa com plano de saúde, odontológico, auxílio educação e vai ter acesso a uma série de treinamentos que, se levar a sério, terá possibilidade de se tornar um ser humano melhor. Os programas voltados para cultura e educação conectam as pessoas ao mundo.
Quais foram os principais desafios enfrentados no processo de implantação do ESG?
Eu resumo tudo numa palavra que é importante para tudo o que a gente faz na vida, que é confiança. Por muitos anos a atividade mineral não soube mostrar para a sociedade o que ela faz. Todas as vezes que a atividade aparecia nos meios de comunicação era porque aconteceu algum desastre. Só aparecia quando abria e ia gerar empregos, ou algum problema de natureza ambiental. Nós não fomos inteligentes o suficiente para mostrar às pessoas que o celular que algum radical usa para divulgar uma notícia falsa sobre a mineração só existe por causa da mineração. Numa casa, o que não for de madeira, plástico ou borracha, vem da mineração. O computador que as pessoas usam, o celular, o remédio, para ter mais saúde, necessita da mineração. Como é que se muda a mentalidade? É preciso construir uma relação de confiança. Nós, por exemplo, tivemos um trabalho muito grande no sentido de chamar a sociedade para dentro da mina e mostrar como nós trabalhamos. Isso é importante inclusive em relação aos órgãos de fiscalização e regulamentadores. Nós temos um programa de portas abertas, em que permitimos o acesso de qualquer entidade às nossas estruturas, levamos na barragem, na mina, onde quiser. Nós sabemos fazer acontecer protegendo o meio ambiente, respeitando as pessoas. Nós ganhamos o Great Place to Work (GPTW), de melhor lugar para trabalhar. É um prêmio difícil de conquistar porque é por votação dos funcionários. Acho que o grande desafio foi ganhar confiança dos órgãos, da sociedade e dos empregados – e este é um ponto muito importante. Às vezes, um funcionário novo chega na empresa com uma visão equivocada sobre a mineração, associa a algum acidente que aconteceu, e cabe a nós apresentá-lo à nossa cultura organizacional.
Quais são os principais resultados que vocês alcançaram em Jacobina?
Na parte ambiental, a primeira coisa que foi feita foi revisar nosso plano nesta área. Nós contratamos gente muito capacitada. Hoje, conseguimos reciclar 95% da nossa água. A gente tem, na parte ambiental, uma política muito séria para destinação de resíduos, e tem um projeto para reciclagem de materiais orgânicos que gera, por mês cinco toneladas de produtos que são usados como adubo. Temos programas para dar educação ambiental a jovens e adolescentes, tem o Dia de Mineirinho, em que levamos as crianças para a mina, mostrar o que fazemos. Tudo isso para mostrar muito cedo que a mineração não é vilã. Graças à nossa atuação, 18 nascentes estão preservadas. Muita gente fala sobre tecnologia, mas veja a tecnologia depende de matérias-primas que são fornecidas por nós. Não existe transição energética sem o nosso trabalho.
Sem contar que a própria mineração, apesar de produzir bens primários, faz isso usando muita tecnologia.
Só para você ter ideia, nós temos carregadeiras gigantescas operadas por controle remoto, toda o nosso sistema de ventilação e bombeamento é totalmente automatizado e controlado a partir da superfície. Acompanhamos exatamente onde estão nossos funcionários, se alguém tem um mal súbito, imediatamente recebemos uma sinalização por um dispositivo na lanterna e a nossa brigada é acionada. Muitas mineradoras que produzem a céu aberto, já têm caminhões que funcionam de maneira autônoma.
Qual é o impacto da atuação de vocês na região?
A atividade mineral em Jacobina data do Século XVIII, do tempo dos Bandeirantes, em meados de 1770. A história moderna, como mineradora, acontece na década de 70, do Século XX. A operação já foi tocada por uma série de empresas, mas deixa eu te falar, estive em Jacobina em 1998, quando a mina estava parada. Você não via nem 10% do que tem hoje de comércio, hotelaria e escolas do que se vê hoje. A cidade tem faculdade de Medicina, de Direito e várias outras disciplinas. Tem franquias que dificilmente se encontram em cidades do interior. Nós devemos responder por cerca de 30% do PIB (Produto Interno Bruto) local. É uma contribuição enorme. Temos mais de 2,8 mil funcionários próprios. Se fizer a conta que o Ministério do Trabalho faz para o setor de mineração, cada emprego direto na mina influencia positivamente outras 11 pessoas fora da mina. A cidade gira em torno disso, porque nós também temos um papel de formação profissional. Muita gente entra em nossa empresa sem formação e sai de lá pronto para o mercado de trabalho.
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