13 de Outubro – Dia Mundial da Trombose: Bahia é estado com maior número de amputações do Nordeste e registra aumento de óbitos pela doença

Segundo dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), os números referentes às internações por embolia e trombose arterial nos hospitais da rede estadual registraram um aumento de 28,9%, entre 2019 e 2022. O cenário é preocupante e reforça a importância do Dia Nacional de Prevenção e Combate à Trombose, lembrado em 13 de outubro, para chamar atenção para a condição.

Neste mesmo período, os casos de internações subiram de 938 para 1.088 e os óbitos pela doença obtiveram um aumento de 34%. Ao todo, foram 79 mortes pela doença em 2019 contra 85 em 2022. Os dados são referentes às internações na rede hospitalar do SUS e óbitos por trombose.

Os dados fornecidos pela Sesab mostraram também que os registros de internação aconteceram mais em pessoas do gênero feminino do que no gênero masculino. Nos últimos quatro anos, foram registradas 8.989 internações de mulheres e 6.664 de homens.

Conforme os dados da pasta estadual de saúde, outro tipo da enfermidade bastante comum, a embolia e a trombose venosas registraram aumento de 8,9% das internações. O número subiu de 254 internações pela doença para 335 entre 2019 e 2022.

Os dados corroboram um estudo de 2022 da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, que apontou a Bahia como o estado do Nordeste com o maior número de amputação de pernas ou pés. O estado realizou 21.069 procedimentos de amputações de membros inferiores no serviço público entre 2012 e 2021.

De acordo com o angiologista, cirurgião vascular e presidente da Associação Bahiana de Medicina (ABM), César Amorim, mais de 80 mil nordestinos sofreram amputações nos membros inferiores durante o período. “Em segundo lugar tivemos Pernambuco com 16.324 e Ceará em terceiro, com 10.574. Se a gente juntar o total da população nordestina entre 2012 e 2021, chegamos a cerca de 80.124 nordestinos que sofreram amputações nos membros inferiores”, conta.

Angiologista, cirurgião vascular e presidente da Associação Bahiana de Medicina (ABM), César Amorim

Trombose
Para entender o que é trombose, é necessário explicar que existe dois tipos da doença: as tromboses arteriais, que ocorrem na circulação arterial, e a trombose venosa que ocorre nas vias que são fases responsáveis por levar o sangue dos tecidos de volta ao coração e depois ao pulmão para oxigenar.

“A trombose arterial é aquela que pode levar a uma perda da circulação para o tecido, por exemplo, para um membro inferior e aí você pode levar casos de amputação. A trombose venosa quando leva a um entupimento da veia, o membro geralmente ele incha e às vezes esse trombo pode desgarrar ir para o coração e depois pro pulmão e dar uma embolia pulmonar que pode ser um quadro fatal”, explica.

De acordo com o presidente da ABM, os principais fatores de risco para a condição são o tabagismo, diabetes, colesterol alto, consumo de álcool, sedentarismo, obesidade, doenças cardíacas e idade avançada.

“Esses fatores de risco levam ao surgimento de placas de gordura nos vasos, essas placas evoluem com o tempo e por fim pode levar a obstrução de um vaso. O vaso vai levar a falta de oxigênio ao tecido injustamente porque o vaso está obstruído e com isso leva a morte do tecido e é isso que eleva os quadros de amputações”, ressalta.

Outro ponto destacado foi sobre o uso de anticoncepcionais, já que os medicamentos podem contribuir para o desenvolvimento da trombose venosa. “Às vezes trombose venosa num número maior em relação a trombose arterial. Mas esse também são causas de levar pacientes a obstrução e ao quadro de falta de circulação com falta de oxigênio para aquele determinado tecido”, observa.

De modo geral, os homens são mais acometidos pela trombose arterial do que as mulheres. Já sobre as internações, o médico observa que elas acontecem, em sua maioria, com pacientes com quadro diabético e que essas pessoas têm de 15 a 30 vezes mais chances de sofrer amputação do membro inferior, quando comparado a um paciente não diabético.

“80% das amputações não decorrentes de traumatismo ocorrem em pacientes diabéticos. E a incidência de amputação é de cerca de 50 a 90 para cada 10 mil pacientes com diabetes por ano”, aponta.

Dr. César também aponta que a falta de sensibilidade de alguns diabéticos nos membros inferiores pode levar ao aparecimento de úlceras que evoluem. De acordo com o especialista, 20% dos pacientes com diabetes vão sofrer úlceras, 50% dessas úlceras se infectam e cerca de 20% evoluem para amputação do membro.

Pandemia contribuiu para o quadro
Conforme o angiologista e cirurgião vascular, a pandemia da Covid-19 também foi um fator causador do aumento de amputações. “O número de amputações no Nordeste sofreu uma alta progressiva extrema em 2019 e 2021 e que se manteve também em 2022. Isso sem dúvida nenhuma foi decorrência da falta de acompanhamento desse paciente, principalmente diabéticos, que gerou a complicação do seu problema circulatório e mais adiante levou a quase amputação”.

O exame físico é necessário para o diagnóstico da doença, e os pacientes com trombose tendem a apresentar dor local, cor azulada e dormência na região além de palidez. De acordo com ele, a prevalência da trombose arterial está mais ou menos em torno de 4% da população. “Isso vai aumentando proporcionalmente com a idade e pode variar em torno de 0,9% abaixo dos cinquenta anos, até em torno de 14% a 15% acima dos setenta”, diz.

Tratamento
O médico também explica o tratamento da trombose arterial. Segundo ele, em casos de pacientes urgentes, o tratamento pode ser feito através de drogas anticoagulantes, fibrinolíticos ou procedimentos cirúrgicos para desobstruir os vasos. Nos casos de trombose crônica, onde o paciente apresenta ferida que vai evoluindo, o tratamento clínico pode ser suficiente.

“Se o tratamento clínico inicialmente não teve um efeito benéfico, tem que partir para tratamentos cirúrgicos e através de obstrução daquele vaso ou cirurgia endovascular, que é minimamente invasiva, em que a gente tenta de obstruir e evitar uma amputação maior ou até mesmo salvar aquele membro que tinha risco de ser amputado”, finaliza.

Por: Carmem Comunicação

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