Conteúdo investigado: Vídeo divulgado no Instagram e no Telegram em que médico fala que o Centro de Prevenção de Doenças, nos Estados Unidos, pediu desculpas por erros na pandemia, dando a entender que ele estava certo e o CDC errado. O médico fala que exigir vacinas para estudantes é um "erro" porque o CDC orientou o mesmo tratamento para vacinados e não vacinados. Ele finaliza dizendo que as pessoas criam tolerância ao vírus após serem vacinadas, por isso países mais imunizados teriam mais casos de covid-19 - correlação não comprovada por especialistas.
Onde foi publicado: Telegram e Instagram.
Conclusão do Comprova: Um vídeo publicado pelo médico Roberto Zeballos retira de contexto algumas informações verdadeiras para insinuar que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos errou nas orientações de combate ao novo coronavírus.
A instituição realmente admitiu falhas durante a pandemia, porém, não em relação às orientações de prevenção, como uso de máscara, distanciamento social e vacinação, e sim em relação à forma como passou essas orientações para o público. Segundo a diretora do CDC, Rochelle Walensky, o órgão estava acostumado a lidar com um público acadêmico antes da pandemia e não soube adaptar a linguagem para as pessoas comuns. Além disso, o CDC assumiu que precisa ser mais ágil na publicação de descobertas científicas.
No vídeo, o médico também critica a imunização de crianças e adolescentes e relaciona o aumento de casos de covid-19 em alguns países com altas taxas de vacinação. Especialistas consultados pelo Comprova, no entanto, afirmam que não é possível fazer essa correlação. De acordo com eles, países com taxas mais altas de imunização também são os que mais testam a população, por isso, acabam registrando mais casos da doença.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: O vídeo no Telegram teve 27 mil visualizações e no Instagram teve 97 mil curtidas e 5,6 mil comentários até 29 de agosto.
O que diz o autor da publicação: Consultado pelo Comprova, Zeballos afirmou que o CDC "errou em vários aspectos" da pandemia e que "viveu intensamente" a covid-19 por dois anos e meio na condição de médico.
Minha experiência vai totalmente de acordo com o CDC ter assumido erros grosseiros, disse, embora o CDC não tenha recuado em pontos como a recomendação de vacinação, o que Zeballos critica. Apesar de dizer que não se opõe à vacina contra a covid-19 para todos os públicos, o médico criticou a imunização de crianças e adolescentes e disse que ela não é eficaz contra a variante ômicron. Zeballos citou estudos que descrevem efeitos adversos das vacinas para parte dos jovens, disse que a pandemia não é mais uma emergência de saúde pública e que crianças e adolescentes não são o grupo mais atingido pela covid-19 -- embora, diferentemente da declaração dele de que "não acontece nada" com jovens com covid-19, a doença tenha feito mais de 3.300 vítimas dessa faixa no Brasil desde 2020.
Como verificamos: Para fazer a verificação, o primeiro passo foi pesquisar no Google sobre os tópicos falados no vídeo, como se o CDC admitiu algum erro, se o imunologista Anthony Fauci estava saindo do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) -- outro tema que Zeballos cita --, se o CDC mudou as orientações para a covid-19 e se países mais vacinados registraram mais casos de covid-19. Também consultamos o próprio site do CDC e buscamos dados sobre os casos de infecções por covid-19 nos sites Our World in Data e da Johns Hopkins University que compilam os dados da pandemia no mundo.
Além da pesquisa, consultamos o pediatra, infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, e o médico infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Julio Croda. Por fim, também falamos com o médico Roberto Zeballos, autor do vídeo aqui verificado.
CDC admite falhas na comunicação
em nosso grande momento, nosso desempenho não atendeu às expectativas de maneira confiável, disse Walensky no conteúdo ao qual os jornais norte-americanos The New York Times e o Politico tiveram acesso.
De acordo com ela, o CDC irá passar por mudanças com o objetivo de se preparar melhor para emergências sanitárias futuras.
Meu objetivo é uma nova cultura de saúde pública orientada para a ação no CDC que enfatize a responsabilidade, colaboração, comunicação e pontualidade, afirmou Walensky.
Segundo o documento, as mudanças visam melhorias na comunicação do CDC, que incluem a liberação de dados científicos mais rapidamente para aprimorar a transparência. As análises feitas concluíram que
os processos científicos e de comunicação tradicionais não eram adequados para responder efetivamente a uma crise do tamanho e escopo da pandemia de covid-19.
Estamos falando de uma mudança de cultura. Estamos falando de pontualidade de dados, comunicação de dados e orientação de políticas. A reorganização é difícil, explicou Walensky ao Times.
De acordo com a diretora do CDC, o órgão foi desenvolvido em uma infraestrutura acadêmica e isso precisa mudar. Até a covid-19, a agência tinha como público-alvo especialistas e acadêmicos, mas, na pandemia, ela teve que passar a falar com a população comum.
Nestes momentos de pandemia, tivemos que conversar com um público mais amplo. Não tivemos que convencer o público científico - tivemos que convencer o povo americano, disse Walensky. A prioridade então será produzir conteúdos com uma
linguagem simples e materiais fáceis de entender para o povo americano.