As grandes serras que rodeiam a cidade e o chão batido da zona rural, misturados ao sol que castigava a lida diária dos sertanejos de sua infância, foram alguns dos aspectos que contribuíram na formação e reflexões na vida do estudante de Psicologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e hoje ativista climático voluntário, João Raphael Gomes, de 29 anos.
Filho de Jacobina, tendo tido parte da infância na zona rural de Ourolândia, ele se mudou para Salvador aos 7 anos, onde hoje é considerado o embaixador da energia solar no Brasil. Ao Jacobina Notícias, ele contou com exclusividade sobre sua história de vida e projetos.
Assim como muitos jovens da região, que tiveram uma infância simples e acompanharam de perto a dificuldade do povo sertanejo ao acesso à água e produzir alimentos no período de estiagem no Sertão, e todos os seus agravantes, João quis ir além e usar o sol em favor dessas pessoas.
Foi então que, em 2016, quando tinha 25 anos, resolveu criar o projeto Sinergia Solar, em parceria com o professor universitário e doutor em Ciências, Energia e Ambiente pela UFBA, Gustavo Alonso Muñoz, com o objetivo de promover o conhecimento sobre energia solar nas escolas públicas no estado, através da realização de oficinas educacionais didáticas.
Para isso, precisaria fazer com que suas ideias fossem disseminadas nas salas de aulas. E isso não ficou apenas restrito à Bahia. Através do Sinergia Solar, ele levou seu conhecimento sobre energia solar também para outros estados, como o Piauí, Minas Gerais e São Paulo, atingindo cerca de 3 mil pessoas diretamente.
O projeto Sinergia prova que é possível promover a ciência nas escolas públicas e unir organizações, empresas e governos nesse processo. O intuito é pressionar os gestores municipais e estaduais para que possamos ter escolas solares no Brasil. A ideia é que o dinheiro economizado na conta de luz das escolas públicas retorne como investimento nas estruturas da própria escola. É uma lógica possível e alinhada à sustentabilidade do planeta. Já temos exemplos no Brasil, contou João.
Trajetória e título de embaixador
O projeto Sinergia de João já foi destaque em eventos mundiais, como a Campus Party, principal acontecimento tecnológico realizado anualmente no Brasil. Além disso, ele também possui uma longa trajetória como ativista, acumulando resultados positivos que o fizeram ser chamado pela imprensa baiana de “embaixador da energia solar no Brasil”.
O estudante já participou da Rio+20, que é a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em 2012 na cidade do Rio de Janeiro, cujo objetivo era discutir sobre a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável.
Desde 2010, ele é ativista do clima e em 2015 foi selecionado e treinado pelo Greenpeace Brasil como “Multiplicador Solar”, para dar visibilidade a energia solar no Brasil e participou da instalação de placas solares em escolas públicas nas cidades de São Paulo (SP) e Uberlândia (MG). Apenas 30 jovens de todo o país participaram dessa formação, e João era um deles.
João também participou da a 23ª Conferência das Partes (Cop 23) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, em Bonn, na Alemanha, em novembro de 2017.
Fiquei muito feliz por representar o nosso estado e a minha cidade, pois o sol passou a representar oportunidade na minha vida e pude compartilhar isso com as pessoas, disse.
João afirmou ainda que, apesar de estar longe, tem acompanhando o desenvolvimento de Jacobina em relação aos empregos verdes, como é o caso da chegada da Torres Eólicas Do Nordeste, empresa que se firmou na produção de energia eólica entre a região de Jacobina a Umburanas.
Na minha infância o sol tinha uma simbologia muito difícil. A seca exige muita resiliência. As pessoas que vivem nessas regiões são inspiradoras, vivem diante de muitas dificuldades. Mas, vejo que atualmente a energia eólica tem movimentado bastante a economia por lá e fico feliz que as pessoas estão tendo oportunidades nos empregos verdes, completou o estudante, que disse que sempre que pode costuma visitar à região, onde deixou amigos e familiares.