Marujada de Jacobina “alerta quem dorme” há mais de duzentos anos
Há mais de duzentos anos a Marujada de Jacobina entoa versos nas ‘matinas’ das festas de Santo Antônio, padroeiro da cidade, dia 13 de Junho, e de São Benedito, santo muito festejado no município, na segunda-feira imediata ao domingo de pentecostes.
Terminados os compromissos religiosos, os marujos percorrem a cidade, visitando as casas das famílias, onde dançam, cantam, recebem a homenagem da população e são obsequiados com doces e bebidas. Depois de uma jornada tão intensa, recolhem-se e ficam no aguardo da próxima festa ou próximo ano.
A temática dos cantos envolve, de um lado, insistentes referências a vida do mar, à marinhagem; de outra, alude as terras do antigo colonizador, ao mencionar Portugal, Porto, Lisboa e a cidade de Vagança, muito provavelmente Bragança.
A vestimenta nem sempre foi a mesma. Nos começos era um uniforme branco completo, isto é, calça e paletó, todo enfeitado de fita com laços pregados. Na cabeça uma carapuça que se mantinha erguida, armada, acabando em forma de funil, enfeitada de espelhos, fitas e ramos de folheta, vestimenta que perdurou até 1931. A partir de então, os marujos passaram a usar roupa de marinheiro, branca com azul marinho na festa de São Bendito e branca com vermelho na festa de Santo Antônio.
A estrutura organizacional da Marujada é fixa, definida através de postos hierárquicos assim identificados: um almirante, que é o mestre, dois generais, dois capitães, um contramestre, calafetes geralmente em número de seis, e marujos em número variável. Dispõem-se seguinte ordem, quando a composição do grupo para apresentação: à o mestre com a sua batuta, ladeado pelos generais, que ostentam espadas, e entre aqueles e estes os calafetes; seguem-se os marujos e por fim o contramestre, tendo o seu lado os capitães. À frente todos e “puxando” – como dizem – a Marujada está o violeiro.
Os componente da Marujada foram, desde a origem, pessoas negras, como são os que constituem as duas famílias em torno das quais se alternam a sua direção e o seu comando, a família Labatut e a família Caranguejo. Com o passar dos tempos, pessoas de outras etnias começaram, ainda que parcimoniosamente, a integrar o grupo que desfila, representando-se principalmente da categoria dos calafetes.
Os instrumentos usados são dois pandeiros, uma viola, pandeirinhos tocados pelos calafetes e castanholas pelos marujos. Os oficiais, generais e capitães, usam espadas, o mestre e o contramestre tem batuta. Os textos recitados são de competência dos oficiais que dão ordens; aos marujos responder a estas, cantando:
“Alerta, alerta quem dorme!
Saia moça na janela
Oi venha ver a triste vida
Que o pobre marujo leva!”
Canto que, os marujos de Jacobina entoam há mais de duzentos anos, nas festas de São Benedito e Santo Antônio, despertando a população jacobinense.
Texto: Suzana Alice Marcelino Cardoso
Fotos: Jacobina Notícias