Crise leva o consumidor a escolher qual conta vai pagar: luz, água ou telefone

Todo dia que chega uma nova conta na casa da auxiliar de classe Juce Passos, o documento não só é lançado no orçamento das despesas fixas como acaba se juntando a outros que disputam centavo por centavo do salário da consumidora.

“Estou na base do sorteio para saber o que vou pagar. A luz mesmo, eu tenho pago mês sim, mês não e assim eu vou levando”, diz, em meio ao sufoco financeiro deste ano.

Segundo números do SPC Brasil e da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), as dívidas nas contas de luz e água cresceram 13,31% em maio em comparação com o mesmo mês de 2014. O índice geral de inadimplentes, segundo a mesma pesquisa, cresceu 4,79% no mesmo período.

“Na verdade, o negócio está tão feio que as pessoas estão deixando até mesmo de pagar as contas básicas”, afirma a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti. Não é de hoje que Juce tenta fazer economia. Ela já cortou o pacote de TV por assinatura, mudou o celular pré-pago para um plano controle, cortou o telefone fixo, só vai ao salão de beleza em dia de festa e já retirou do carrinho de compras até o presunto do pão. Ah, a viagem de São João também está na lista de cortes.

“A conta de luz foi o que mais me deixou desregularizada para as outras coisas”, diz. A conta de luz de Juce aumentou, e muito. “Eu pagava, em média, R$ 50. Agora está na base de R$ 117, mas teve um mês que chegou a R$ 190. Aí não tem jeito fico sem pagar até o limite do aviso de corte enquanto corro do outro lado para resolver”.

A pagar

O mesmo Índice de Inadimplência destacou também o crescimento de 12,02% das dívidas cujos credores são do segmento de telefonia, internet e TV por assinatura, seguido pelo segmento de bancos, que engloba dívidas no cartão de crédito, empréstimos, financiamentos e seguros, com crescimento de 10,10%. Pendências com vencimentos entre 91 e 180 dias têm maior alta.

Segundo a economista-chefe do SPC, Marcela Kawauti, as dívidas não estão crescendo apenas pelo o aumento da taxa de juros. É o salário que não está dando para garantir as despesas. “A pessoa está equilibrando pratos. Não tem priorização de um único segmento: se vão cortar minha luz, eu vou e pago – mas se eu vou perder o limite do meu cartão de crédito, eu vou resolver isto”, exemplifica.

Correio24H

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