Pesquisador aponta atraso de diagnóstico como responsável por surto de malária na Bahia

Apesar do número de 21 casos de malária registrados em Wenceslau Guimarães assustar por ter ultrapassado a média baiana de 18 ocorrências por ano em todo o território, o surto localizado no município do sul do estado não é alarmante. De acordo com Bruno Bezerril, médico pesquisador da doença na Fiocruz, o surto não tem condições de se espalhar para o resto da região ou do estado. “A malária não é como a febre amarela, por exemplo”, declara. “O mosquito vetor que transmite a enfermidade vive apenas em áreas florestais ou rurais e não é encontrado em toda a Bahia”, argumenta o médico que acredita em “chances pequenas” do alastramento da endemia. “Fora do ambiente urbano, não tem como o mosquito fugir das áreas com florestas e zonas rurais”, fala. Apesar do não convívio urbano, o ciclo da malária obedece uma lógica parecida com a transmissão de outras doenças tropicais, como a dengue. Um mosquito contaminado com o parasita da doença pica uma pessoa que, com o sangue contaminado, passa a transmitir a condição para outros mosquitos, que picam outras pessoas. 
“O controle dessa doença é baseado no controle do vetor [mosquito] e principalmente no diagnóstico precoce do paciente”, lembra o médico ao dizer que identificar um paciente cedo é evitar que mais mosquitos e pessoas contraiam a doença. O médico acredita que o atraso no diagnóstico é um dos motivos do surto em Wenceslau Guimarães. Com cerca de 70% da população do município vivendo na zona rural de Chico Lopes, a demora na identificação de casos e tratamento de pacientes pode ser o responsável pelo salto de 9 casos registrados na última sexta-feira (19) para um total de 21 pessoas confirmadas com malária nesta segunda (23), segundo o pesquisador. “O mapa da malária se restringe a regiões florestais, geralmente sem muitos recursos, em que há desmatamento e que o mosquito passa a viver com os homens”, diz. “Uma explicação possível para o que está acontecendo em Wenceslau Guimarães é que o controle do mosquito e o monitoramento da doença não foi feita de uma forma continuamente agressiva”, comenta. Dois óbitos foram registrados com suspeita de malária. Bezerril atribui a “gravidade do assunto” também ao “atraso no tratamento”. O remédio para a malária não é encontrado em farmácias e tem distribuição controlada, porém, é efetivo quando iniciado, garante o pesquisador. Contra o ciclo da doença, em que a demora do controle da população de mosquitos e diagnóstico tardio infecta mais gente, a Secretaria de Segurança Pública (Sesab) em parceria com a gestão municipal, tem feito campanha ostensiva contra o mal na região de Chico Lopes. “Fizemos um levantamento que coletou 304 amostras de sangue de pessoas que estão nos entornos da zona afetada. Todas as amostras deram negativo para malária”, garantiu o prefeito da cidade, Carlos Alberto Liotéri (PRB), que aposta que mais nenhum caso será confirmado. Além da medida preventiva, a Sesab tem dedetizado as casas com um inseticida com duração de 6 meses e esfumaçado a região com veneno capaz de matar instantaneamente os mosquitos adultos durante a noite, período preferido para o ataque.