30/5/2011 0h16 - Aos 12 anos, Paula (nome fictício) tinha o sonho de ser independente e viver um conto-de-fadas. Fugiu da casa da avó, no interior baiano, para viver com um homem de 32 anos. Uma relação que a jovem acreditava poder transformá-la “em princesa” – ter as roupas, sapatos e bolsas que sonhava e o principal: ficar livre das agressões físicas e maus-tratos praticados pelas tias. Quatro anos depois, o conto-de-fadas virou pesadelo. Após se mudar para Salvador, ela se deu conta de que era a mulher “do dono da boca de fumo”. Passou a ser mantida em cárcere privado, vigiada por um soldado do tráfico. “Queria sair mas não sabia como. Criei coragem quando descobri o paradeiro da minha mãe, que me abandonou quando eu tinha três meses”, lembra.
Só aos 23 anos, após onze anos de relacionamento e com um filho de 3 anos, ela teve o apoio das irmãs e conseguiu fugir. Hoje, aos 26 anos, Paula diz ter pouco contato com o traficante. Ela tem uma filha, de 1 ano e oito meses, de um novo relacionamento, e aguarda a chegada do terceiro filho. Mesmo com dificuldade, ajuda a manter a família com o salário de manicure: “Muitas mulheres me chamam de doida, porque deixei uma vida que poderia ter o que quisesse. Outras me elogiam. Eu me sinto vitoriosa”.
Histórias como a de Paula são comuns em comunidades de Salvador. Jovens de 12 a 17 anos estão sendo exploradas por traficantes que mantêm duas, três meninas em pontos de venda de entorpecentes viciando-as ou fazendo-as de mulas (pessoas que transportam drogas). Em alguns casos, são trancadas nas moradias ou obrigadas a se prostituir e atrair criminosos rivais para ciladas. A Tarde