O médico e o monstro – Jolivaldo Freitas

Sempre ouvi falar de problemas no atendimento médico do SUS e dos hospitais públicos e dos médicos que atendem neles e nos postos de saúde, mas jamais pensei que vivenciaria o problema numa clínica particular, que recebe pagamento do plano de saúde que pago – embora ache que o meu plano de saúde perde em muita coisa para o atendimento pelo SUS, tanto que já tirei meu cartão alternativo). Mas, o que era folclore para mim e realidade para milhões de pessoas constato que é vero. E conto pois gosto de contar.

Com uma dor no meio do pé e outra no calcanhar procurei emergência numa clínica em Ondina e a médica mandou que eu procurasse um especialista em pé – e eu ia fazer uma brincadeira, mas pela primeira vez tomei vergonha na cara pois já ia perguntar, todo sem noção se especialista em pé é pedófilo ou pederasta, e a senhora e o senhor fiquem aí imaginando como não ficaria a cara da médica que em nenhum momento me deu ousadia, me deu espaço para brincadeira, médica séria que era.

O Raio X não mostrou nada e ela solicitou de pronto uma Ressonância Magnética que fiz e depois do resultado marquei o especialista em pé – que até agora, sério, não sei como se classifica a especialidade, mas não irei ao professor google perguntar e quem souber me diga – e lá fui eu. Esperei pouco na sala de espera e como era início da tarde tinha pouca gente. Chamado entrei na sala do médico, um homem que se viu logo vaidoso, com cabelo tingido, pulseira de outro no melhor estilo namorado da Viúva Porcina e o homem só fazia abrir a bocarra, deixando claro que tinha almoçado e almejava mesmo era uma boa hora de sono reparador da beleza.

Tentei puxar uma conversa para que ele acordasse, mas nada e ele já quase espraiado na cadeira perguntou o que eu sentia e quase respondo “sinto que o senhor está sonado”, mas de novo me segurei, pois, o homem não tinha me dado ousadia e expliquei. Me colocou na cama, olhou o meio do pé e o calcanhar expliquei as dores, a intensidade, falei das minhas atividades esportivas e blábláblá e senti que ele nem estava ouvindo, pois, o médico bocejava como se tivesse perdido a noite e sonhasse com uma cama limpa, king, lençol de seda, travesseiro de pena de ganso, ar ligado, blackout nas janelas e silêncio absoluto enquanto lá foram estava o calor e a vida passava para os meros mortais no trânsito intenso. E, com certeza aspirava não ter um paciente para incomodar com suas dores nos pés.

Pois constatei que ele realmente estava perdido no tempo e espaço quando passou uma pomada para a dor no meio dos pés e esqueceu do calcanhar. Perguntei sobre o calcanhar e ele: – Que calcanhar?

E eu: – O calcanhar que a Ressonância Magnética diz no laudo que está com uma tal lesão degenerativa que nem sei dizer o nome!

Ele: – Onde você achou isso?

Eu – Aqui escrito no laudo, na parte de baixa.

Ele: – Né nada não!

E eu boquiaberto estava por ter de ler o laudo que o médico leu pela metade com sono e sem vontade de ir até o final. E tudo isso levou menos de dez minutos. Não precisava ser meia hora. Custava ler o laudo todo? Vou em busca de uma nova opinião. Se bem que o médico sequer opinou. Ou vou numa benzedeira? E quanto ao monstro?  Tem não. Foi só para chamar a atenção do leitor. Ou tem?

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Aqui vai uma dica para quem gosta de humor cínico. Tem um site de nome nãoéopasquim.com que atira para todos os lados com extrema inteligência. Dê uma checada. Não sobra pedra sobre pedra.

Escritor e jornalista: Jolivaldo.freitas@yahoo.com.br

 

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